Que o mundo está cada vez mais competitivo é fato grandemente ultrapassado. Grandes marcas, valiosíssimas, investem rios de dinheiro para tornarem-se cada vez mais ricas. A sabedoria popular simplifica a história, com a máxima que “o de cima some e o de baixo desce”, tão cantada nos carnavais de antigamente. Aí, cá estamos, em nossos trabalhos, em negócios prósperos, porém sem tanta pompa e circunstância assim. Como não se conformar com a mediocridade, alienando-se com a ilusão de que ser o melhor do mundo não é algo para reles mortais?
Seth Godin, no livrinho gostoso chamado “O melhor do mundo”, dá a deixa: “Seja o melhor no meu mundo e você me conquistará imediatamente.”.
Podemos também apelar para aquela história atribuída à Madre Tereza de Calcutá, proclamada santa católica que, interpelada por um homem curioso em entender como uma ser tão frágil dava conta de tantos miseráveis e moribundos, responder placidamente: “um por vez”.
Não tem muito jeito, não. Quando o assunto é atender um ser humaninho, o lance é buscar compreender a complexidade de cada universo pessoal, e buscar fazer a diferença. Diferença ali, na lata, levando em conta as particularidades das pessoas. Entendendo desejos, necessidades, medos, angústias, anseios, e pondo-se ao lado, apresentando caminhos até então não conhecidos para solucionar os problemas apresentados – ou sequer desvelados.
Só tem um senão o desenvolvimento de tal postura: dá trabalho. Dá trabalho pra caramba! Demanda atenção, interesse, curiosidade, vontade de contribuir, escuta ativa e focada. Conectar-se a cada um, mesmo que por pouco tempo, mas com a intensidade garantida pela presença plena – e disso, tendo vontade, a gente dá conta.
Godin enuncia: “As pessoas se acomodam. Elas se satisfazem em fazer menos do que são capazes.”. Sim, somos capazes. Todo mundo tem algo bom pra dar – meu otimismo, mesmo que bastante acanhado, me mobiliza a essa crença. É preciso entender o quão dispostos estamos para ofertar essa completude ao outro. Especialmente quando o outro é quem irá se beneficiar de nossas soluções – seja ele o cooperado, o associado, o cliente, o colega de trabalho, a liderança, o fornecedor ou o raio que o parta (raio que parte a nós mesmos, no fim das contas, quando não sente que vale a pena investir em fazer negócios com a gente).
Um desafio se instala – ou o mero flagrante de um possível ciclo virtuoso, a depender da perspectiva sobre a questão. Para evoluirmos na vida, na carreira, no trabalho, dependemos da percepção do outro sobre a diferenciação de nossas entregas. Cada vez que a gente simplesmente se economiza, na intenção de nos pouparmos, mais nos gastamos e desgastamos – por não conquistarmos os resultados (preferencialmente excepcionais) desejados. Agora, quando a gente tá ali, entregue, disposto e disponível para surpreender, acolher e orientar, temos a chance de sermos vistos como o melhor daquele – e para aquele – mundo.
Fácil não é! A gente roda, roda, e volta às provocações da antifragilidade, apregoada por Taleb. Godin parece concordar, aliás: “... a adversidade pode ser sua aliada. Quanto mais difícil a disputa, maior será a sua chance de se diferenciar e de se afastar dos concorrentes.”.
Mas... tem que se bancar. Não dá para fugir à luta. E ele fala duro, dando o bom chacoalhão: “se o máximo que você pode fazer numa situação é aguentar firme, é melhor desistir”.
Como diria meu filho, no alto da sabedoria de seus dezesseis anos: e aí, vai arregar?
Por Maíra Santiago, diretora-presidente da Cooperativa Coletiva