Com tanta gente que gosta de falar, mostrar o que sabe, seu vocabulário, se conhecimento técnico, e procura técnicas e técnicas sobre oratória, contação de histórias e sobre como prender o ouvinte ao que está sendo dito, onde de fato encontramos aqueles que sabem e conseguem ouvir com atenção, com o foco no outro, entendimento das limitações e interesse genuíno de doar no momento que está escutando?
Talvez tenha chegado o momento de nos dedicarmos mais a escutar à falar. Podemos dizer então que precisamos adotar uma “escuta radical”, uma escuta que está totalmente direcionada às informações que estão vindo da outra parte, do associado, do colega de trabalho ou de quem quer que seja.
A escuta radical nos beneficia de várias formas quando estamos em relações e principalmente nas comerciais como já dito antes, pois conseguimos entender sentimentos, motivações, desejos e necessidades reais no outro.
Mas vem a dúvida, será que realmente estamos escutando de fato? Como sei se a minha atenção está voltada para o que realmente importa?
Você já deve ter escutado aquela voz que insiste em nossos pensamentos quando estamos dialogando com alguém, atendendo um associado, aquela voz que fica trazendo informações para responder o outro imediatamente ou até para sugerir uma solução.
Sabe que voz essa? São os nossos pensamentos, isso mesmo, aquela voz que escutamos que é nossa mesmo, que quando estamos conversando com o nosso colega, fica em segundo plano, às vezes até em primeiro plano, nos dizendo e traduzindo os nossos pensamentos, impedindo que foquemos a nossa atenção 100% no que a outra pessoa diz.
Pois é, essa voz nos dá o flagrante de que não estamos realmente prestando atenção ou não estamos com atenção plena no que o outro diz. Neste momento, corremos o grande risco de enviesarmos um diálogo que sim poderia trazer ótimos resultados ou soluções, para um lugar totalmente distante da realidade e necessidade do outro.
Realmente, a maioria das pessoas precisam de vigilância constante sobre a própria escuta, pois normalmente não é natural prestar atenção plena no outro. Porém quando passamos a perceber a voz na mente ou como costumamos chamar, o diálogo interno, fica mais fácil fazer as correções de atenção eliminando esse barulho mental.
Agora, escuta radical não significa apenas ouvir a fala da outra pessoa. As próprias atitudes, comportamentos, o próprio silêncio também comunica. Quando praticamos a escuta radical é necessário que tenhamos dimensão de tudo que a outra pessoa comunica, e percebemos isso, através de uma análise geral sobre a pessoa e a situação em questão.
É importantíssimo lembrarmos que cada um, tem uma percepção diferente das coisas, e temos que nos ater ao fato de que podemos interpretar alguém de forma equivocada ou longe do que a pessoa de fato deseja transmitir. É um associado falando sobre precisar trocar de carro pois está prejudicando a sua produtividade nas entregas onde trabalha e escutamos apenas que ele quer um crédito sem entender de fato a dor dele. Há muitas perspectivas que podem nos confundir ao fazer essa leitura. O exercício acaba sendo a capacidade que temos de limpar a nossa mente de pensamentos, diálogo interno, preconceitos, modelos e padrões para que consigamos escutar e entender o outro realmente.
O segredo daqueles que alcançam bons resultados está aí, na capacidade de compreender o que o cliente ou associado de fato precisa, e isso só se torna possível através da escuta radical, como diz o escritor e diretor Roy Bartell, “muitas pessoas pensam que “vender” é o mesmo que “falar”, mas os vendedores mais eficazes sabem que ouvir é a parte mais importante do seu trabalho”.
E você já se percebeu querendo interromper o outro para dizer que sabe da situação e que até passou por algo igual? Se sim, você pode não ter escutado realmente.
Por Júlio Cavalcanti, educador da Cooperativa Coletiva