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"Eu prefiro dinheiro!" disse a Júlia.

Publicado em 07/02/2023

Quando chega o Natal, época linda do ano, de reflexões, de casas enfeitadas, reuniões em família, comemorações e comidas gostosas, vem junto a tradição dos presentes.

As entidades de pesquisa relacionadas ao comportamento do consumidor sempre divulgam os recordes, ano após ano, dos números crescentes das compras, muito potencializadas pelo e-commerce, atualmente. A reflexão vem deste tema, algumas crianças preferem dinheiro ao invés de presentes. 

É difícil tratar com as crianças qualquer conceito sobre educação financeira em uma única data no ano, é preciso constância, é preciso falar disso o ano todo, a percepção deles pelo comportamento dos pais com relação ao dinheiro precisa ser notada. Aqui temos um ponto a analisar.

A partir de uns 7, 8 anos, ou antes, alguns preferem ganhar dinheiro no lugar dos presentes, porque tem desejos próprios e necessidades de consumos já despertadas que os adultos presenteadores não alcançariam. 

Dar dinheiro de presente de Natal é válido para quem cuida do dinheiro. Aí vem uma historinha rápida.

Pedi ao meu primo uma dica do que daria de presente de Natal a sua filha, Júlia, com 10 anos. Ele me deu algumas sugestões e fez uma observação ao final: Nanda (é assim que os de casa me chamam) vê aí quanto tu irias gastar e de a ela o dinheiro, ela gostará mais, não importa quanto for o valor. 

A educadora financeira aqui, que não conhecia a realidade da família, não poderia deixar de pensar: vai gastar tudo e não vai guardar nada! Eis que veio a próxima fala dele: “ela prefere porque sabe que o dinheiro guardado trabalha para ela. Eu sou o banco dela, mostro quanto o dinheiro cresce só de ficar ali, investido". Bingo!

É isso. Falta falar. E na maioria das famílias não se fala sobre dinheiro. A educação financeira com as crianças começa a partir do entendimento do conceito de poupança (ato de poupar). Precisa fazer sentido, precisa ter por quê. Para ela, o dinheiro crescendo, viabiliza a compra de algo que ela deseje no futuro. Não existe impeditivo para gastar, apenas o entendimento de que, se o dinheiro lá está crescendo, não vai querer mexer.

Passou o Natal, o presente foi dado e ontem veio uma mensagem no Whats: "Ela ficou muito feliz com os pilas, mas ficou pensativa sobre guardar tudo até eu mostrar para ela quanto ia começar a render." Houve o entendimento. Aprendizado concluído.

Daniel Kahneman na sua obra Rápido e Devagar cita que o adulto ao fazer uma escolha prioriza sempre aquilo que é imediatamente importante, geralmente sem pensar no impacto da escolha no futuro. Crianças que conseguem enxergar o benefício futuro de poupar, serão adultos com uma relação melhor com o dinheiro. Vide a pesquisa realizada com o teste do Marshmallow, que é antiga, mas mostra o êxito financeiro destas crianças na fase adulta. (https://comoinvestir.anbima.com.br/noticia/experimento-do-marshmallow-o-que-ele-pode-nos-ensinar-sobre-cuidar-do-futuro/).

Cabe pensarmos então no nosso comportamento com as crianças. Tudo bem dar dinheiro de presente, desde que haja orientação acerca deste tema. O consumo existe e as necessidades também, e está tudo bem usarem parte do valor para os desejos de criança, mas orientar a poupar e mostrar a importância do "dinheiro que cresce sozinho" e serve para o futuro, também é bem legal!

Por Fernanda Chidem, diretora e educadora da Cooperativa Coletiva