A gente tem preguiça. De quem trabalha com educação corporativa como se fosse pastelaria. Sem entender as especificidades de cada realidade. Ou, pior ainda... preguiça em dobro de quem finge se interessar pelo cenário do negócio e sai construindo diagnósticos, cuja única intenção é apontar velhos erros, problemas e defeitos, já tão conhecidos pelos demandantes – flagrantes estes que, curiosamente, são sempre passíveis de solução pelos mesmos métodos e técnicas milagrosas de sempre.
A gente tem muita preguiça, mas muita, mesmo, de quem reproduz milimetricamente, a mesma abordagem, anos a fio, repetindo os mesmos exemplos, as mesmas situações, as mesmas piadas. Embora diga que o mundo mudou, a aula requentada é servida, dia após dia. A gente tem preguiça de quem faz da educação mero processo oportunista, por vezes até exploratório, pegando onda nas modinhas e nos termos rebuscados que dão ibope. Mais do que preguiça, a gente tem pavor, de quem constrói relacionamentos abusivos com a equipe, com clientes, com fornecedores, estabelecendo relações de dependência, ao invés de construir junto e colaborar de verdade.
A gente tem preguiça, dessas de ficar prostrado, de quem se apropria, integralmente, dos resultados que são, no fundo, produzidos por uma infinidade de ações, que contam com tanto empenho e esforço de diversas áreas e iniciativas, como se fossem unicamente decorrentes de uma aula-show repleta de falsas fórmulas mágicas.
A gente não tem apenas preguiça, mas a gente não se conforma, com discursos desassociados à prática. Especialmente em um tema tão caro para nós (e para o mundo), que é a educação. Dizer uma coisa e fazer outra é algo tão flagrante, que fica até feio.
Mas a preguiça passa e vem a disposição. Pois, não é suficiente estar disponível – é preciso ser disposto para fazer a diferença. A gente tem disposição para customizar, pra valer, o que for preciso, de modo a construir aprendizados significativos e relevantes à realidade da sua equipe, do seu ambiente, da sua cooperativa. A gente tem disposição para aprender o que é importante no seu negócio, quais são os aspectos mais representativos no seu planejamento estratégico, o que demanda suporte da educação para clarificar a cada colaborador sua responsabilidade, permitindo que assuma a justa parte que lhe cabe.
A gente é bem-disposto para inventar e reinventar formas de sensibilizar as pessoas para novos entendimentos, e provocá-las a construírem, juntas, caminhos alternativos à superação dos desafios. A gente gosta mesmo é de poder ligar os pontos, honrar nossa bela história do cooperativismo e transformar tudo isso em contribuição efetiva. Para os associados, para os colaboradores, para as cooperativas e, obviamente, para as comunidades das quais fazemos parte.
Porque, pra nós, propósito não é modinha. É parte do DNA de nosso modelo. Cooperativas nascem de necessidades conjuntas e, ao olhar para nossos pontos de partida, fica simples compreender o que nos trouxe até aqui. Não com saudosismo, mas com discernimento e gratidão ante o legado recebido.
A gente é bem-disposto, e fica até entusiasmado demais de vez em quando, pra levar a boa nova do cooperativismo pro mundo, não só por admirar – de fora – o movimento. Mas por viver – de dentro – as dores e as delícias da cooperação.
A gente faz educação corporativa cooperativa. Não como slogan, mas como modo de ser no mundo. Quem é, sabe: ser cooperativa dá um trabalhão! Como são complicados nossos processos, terminologias e formalismos. Ah, mas como vale a pena! Poder dialogar, no devido lugar de fala, sobre os preparativos minuciosos para uma assembleia geral extraordinária. Conhecer as particularidades do registro de uma ata e da votação relativa à destinação de sobras. A gente sabe, porque faz. A gente conhece, porque é.
Portanto, a gente nunca vai ter preguiça de entender o que é valoroso pra você. A gente fica alerta e ligado para intercooperar, vivendo com quem é da “nossa mesma turma” este, e todos os demais princípios. Porque educação se faz menos no discurso e muito mais na prática. E o que a gente é todo mundo nota, não dá pra disfarçar. Aliás, a gente também tem preguiça de quem floreia demais as coisas.
A gente só tem três anos. Temos muito o que aprender ainda. Porque quem se mete a atuar com educação, nunca mais na vida vai ter a chance de parar de aprender. Sabemos um tanto da nossa incompletude. Conhecemos também o nosso inacabamento. E, por isso mesmo, temos muita vontade de seguir evoluindo, em prol da evolução da educação em nossos negócios – e, especialmente, em nossas cooperativas. Bora aprender juntos?
Por Maíra Santiago, diretora-presidente da Cooperativa Coletiva