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É preciso cooperar pela competitividade (mesmo que pareça paradoxal!)

Publicado em 30/08/2022

“Mundo véio está mudado”. Com essa menção a Tião Carreiro, nosso presidente Marcio Lopes de Freitas introduz as boas-vindas a nós congressistas, na “Semana da Competitividade”, promovida pela OCB. 

Desconhecedora dessa tradição musical, fui conferir o contexto da canção. Que começa com desolação, dizendo que: “todo homem tem seu preço, todo santo tem seu dia, mundo velho está mudado de quando os avós vivia, quando a palavra de um homem mais que dinheiro valia”.  

Certamente, a sabedoria da cultura popular é eixo e inspiração para nossos aprendizados. Não se trata de saudosismo e desejo de voltar ao tempo passado – e sim a postura honrosa de zelar por nossas raízes. Que em nosso caso, do movimento cooperativista, são raízes fortes, que buscam formas de manter o viço de todo o nosso ecossistema, especialmente em tempos desafiadores como os atuais. 

A estrutura do congresso, pautada em quatro grandes, e indispensáveis, temas, foi a seguinte: inovação, inteligência de mercado, ESG e liderança. Sem evolução em tais quesitos, impensável a manutenção de nossa competitividade. Dados do anuário do cooperativismo brasileiro, anunciam quase 19 milhões de cooperados em nosso país (menos de 10% da nossa população – há um grandioso patrimônio conquistado, mas, notoriamente, ainda temos muito por fazer). 

É preciso ocupar os merecidos espaços. Nas palavras de nosso presidente, é essencial a construção de diálogo, uma vez que “não existe cooperativismo sem caminhos de interlocução, consenso, sem a verdadeira democracia”. A partir desta necessidade, foi anunciado um programa de educação política, disponível no link: https://eleicoes2022.coop.br/. Dialogar com quem conhece, e valoriza, o cooperativismo, nos dá maior visibilidade e consequentes oportunidades. Ganha o movimento, a sociedade, nossas cooperativas e cada um de nós. 

Não caiamos na desilusão de Tião Carreiro, que segue assim: “Hoje a palavra de honra manter ou não, tanto faz; hoje tudo tá mudado, pra ninguém isto é segredo; a moral de certos homens está servindo de brinquedo”. Que sejamos protagonistas vigilantes a favor da desejada transformação. Inspirados pela esperança – do tão falado verbo esperançar, e não da mera espera vã. 

Na Aliança Cooperativa Internacional, temos nosso espaço mais do que garantido. Marcio Lopes rememora a conquista de espeço no conselho da ACI, com expressiva votação. De 700 votos, mais de 650 foram em prol das cooperativas do Brasil. Nosso cooperativismo é referência global. 

Dario Neto e Tarsila Reis, introduzindo o afamado tema do ESG, trouxeram reflexões sobre o quão vanguardista segue sendo o nosso movimento. Com a ênfase dada pelo mercado financeiro, com uma agenda pragmática, desde 2004 essa sigla vem se amplificando. Cada vez mais consumidores se importam com critérios ESG – 8 em cada 10, segundo a pesquisa “humanizadas”. Fundamental a compreensão de que ESG não pode ser um “puxadinho”, e sim uma nova forma de fazer negócios. 

Apenas seguindo nossos preceitos estatutários, o cooperativismo se coloca muito à frente de organizações tradicionais. Segundo os palestrantes, “cooperativismo é o que todo mundo precisa hoje”. Uma referência, de certo modo animadora é que, enquanto as empresas B certificadas no mundo não somam 5.000, em nosso país temos praticamente 5.000 cooperativas. A transformação social e a redução das desigualdades passam, necessariamente, pelo coop. É nossa missão e nossa responsabilidade indelegável. 

Tânia Zanella arremata a abertura do evento sustentando que o DNA do cooperativismo é ESG. Perguntas essenciais foram apresentadas: como mensurar nossas ações em ESG? Como comunicar que o cooperativismo já nasceu ESG? É preciso que montemos logo nesse “cavalo encilhado” (que não costuma passar duas vezes, afinal de contas!). 

“Na hora que o mundo mais precisa, o cooperativismo não se omite, ele lidera!”, convoca Tânia. Assim é anunciado o ESG Coop, um processo de promoção da educação que coloca o ESG transversal ao modelo de negócio e prevê o mapeamento de ações, o estabelecimento de indicadores e a formação de lideranças. Lideremos o futuro, de posse dos melhores instrumentos – e de muito conhecimento compartilhado. 

Nada mais inspirador do que aprender com histórias reais, de empreendedores de verdade. Rogério Salume partilhou um pouco de sua jornada, e da expansão de seus negócios. Ter clareza dos pilares da própria vida, encontrar no “não” uma palavra libertadora, vincular desejos e realidades, atitudes e ações. Compreender que todo empreendedor é também um vendedor. E que, cooperativistas que somos, somos todos empreendedores!  

A indignação central que direcionou a energia de Rogério foi a democratização do acesso ao vinho. Deixar de ser uma experiência elitizada para um prazer acessível. A Wine viabilizou essa causa. Para tanto, sempre haverá um momento em que é preciso parar de sonhar e partir – quantas vezes forem necessárias. 

Hiperdisponibilidade – ter o produto certo, no momento certo, no preço certo e com a melhor experiência. Que pode ser presencial ou virtual – desde que sem fricção. Para inovar é preciso gostar de vender, gostar de gente e saber lidar com o risco. Inovar é simplificar. Portanto, antes da transformação digital há de se dedicar a transformação mental. Lições simples e impactantes, para repensarmos nossos comportamentos para a expansão de nossas cooperativas – e do nosso cooperativismo. 

Valorizar a essência, honrar o passado e, com simplicidade, construir o futuro. Não incorrendo na desilusão dos versos de Tião: “o bom conceito que herdaram, se vai nos golpes que dão; num importa a honra da casa, querem ser mais do que são; pra se andar nas alturas, deixa a moral lá no chão”. Sendo quem somos, dando passos na medida de nossas possibilidades, com a moral que nos caracteriza como cooperativistas e com a dignidade que essa alcunha demanda. As trilhas trafegaram pelos 4 grandes temas, com partilhas, provocações e inspirações para a construção do futuro almejado. 

“As nossas histórias não são contadas, por isso falta referência.” A fala, de Gilson Rodrigues, CEO do G10 Favelas, faz menção a falta de representatividade. A força – social e financeira – de comunidades carentes quando se unem, é indestrutível. Capaz de chegar a Nova Iorque, como na história contada pelo empreendedor social. 

“Somos dinossauros buscando ser unicórnios”. No papo sobre inovação aberta, Luiz Ajita inspira, com sua simplicidade, o grandioso objetivo de fazer de Maringá uma cidade inovadora. Juntos, é possível. E já está acontecendo. 

Pequenos lampejos dos grandes ensinamentos distribuídos. Sem falar dos muitos abraços, há tempos esperando por acontecer. Cooperar pela competitividade. Pois o mundo é competitivo, sim. Mas já se deu conta de que os recursos são finitos e que a prosperidade de todos depende do bem-estar de cada um. Nada de paradoxal, simples constatação. Quando cada uma de nossas cooperativas evolui, todo o nosso movimento evolui também. 

Ainda há mais por vir para aprendermos juntos ao longo da Semana da Competitividade. A amostra de hoje, além de caminhos e possibilidades, trouxe ainda mais entusiasmo e comprometimento para fazer o que precisa ser feito. E recorro ao mesmo Tião Carreiro, parceiro de Pardinho, que com mais otimismo em outra canção nos convida ao real desafio. Viver a vida que ama e amar a vida que vive. De preferência, oportunizando a mais gente também viver deste modo. A cooperação é, certamente, um excelente caminho! Em frente e juntos! 

“Tendo amor e saúde, da vida eu não reclamo; eu amo a vida que levo e levo a vida que amo”. 

 

Por Maíra Santigo, diretora-presidente da Cooperativa Coletiva