Começar pelo porquê é importante. Compreender o propósito, a intenção. Alinhar os afamados motivos para ação, gerando significado. Atrelar as pessoas a uma causa grandiosa. Bonito e necessário. É preciso ter propósito para alcançar a almejada autorrealização. Mas... e daí? Apenas discursos bonitos, intervenções filosóficas e abordagens inspiracionais não são o suficiente. Há de se transpor tudo isso em prática. Mais ainda: é fundamental que a prática impacte positivamente nossos associados e/ou clientes.
Numa dessas andanças recentes por aí, escutei algo que me surpreendeu. Recém-saída de uma convenção geral, uma colaboradora de determinada cooperativa comentou: “senti falta de mais pegada de negócio”. Não era ninguém com cargo gerencial ou estratégico. Uma pessoa da ponta, que atua diariamente atendendo cooperados, se inquietou pelo excesso de romantismo na abordagem proposta.
Grandes eventos, por si só, são propícios a catarses conjuntas. Especialmente depois de muito tempo sem reunir toda a equipe, o simples fato de compartilhar o mesmo espaço e tempo já é algo mobilizador por si só. Porém, no retorno, o que sobra? Qual conhecimento residual, depois de um evento de grandes dimensões? Quais ações práticas as equipes são direcionadas a efetivar, quando retornam às atividades do dia a dia? Nosso pensamento, por vezes tão maniqueísta e fragmentado, acaba criando a “gaveta” das intenções segregada do setor de mão-na-massa. Precisa ser assim? Claro que não!
Começar pelo porquê, mas avançar para o “como” – sem perder de vista o “o que”. Atuando com cooperativas financeiras é notório perceber a clareza de seu “o que” – soluções financeiras. Eis o caminho para a entrega de um grandioso propósito. É o meio, e não o fim em si mesmo. Porém, sem caminho, não há chegada. E o jeito de cada um caminhar é que vai fazer com que sejamos percebidos como diferentes.
Consórcio é consórcio em todo lugar. Agora, ofertar um consórcio especialmente para aquele cooperado que tem seus sonhos, mas ainda não adquiriu o hábito de poupar ou investir, é fazer a diferença. Poupança é poupança em qualquer lugar. Agora, orientar uma jovem família a se organizar financeiramente, é fazer a diferença. Abandonar qualquer traço de um comportamento interesseiro, em que os produtos e serviços é que orientam a relação, e abraçar uma postura interessada, na qual a centralidade do ser humano é o principal direcionador – isso faz a diferença.
Quando partimos dos conceitos que o mundo tanto tem demandado atualmente – como a empatia, a inclusão e a escuta, por exemplo, e avançamos para a prática real, é que fazemos a diferença. É urgente convidar, com leveza, os desafios e problemas cotidianos a fazer parte do processo de educação corporativa. A sala de aula é ambiente experimental, onde é preciso estabelecer vínculos e vivenciar a chamada segurança psicológica com profundidade.
As equipes de negócios são parte crucial desta evolução. Para sermos, de fato, percebidos como diferentes é preciso traduzir nossas intenções em ações comerciais. Por muito tempo vivemos a dualidade entre essência e aparência. Porém, cabe a lembrança, de que fazemos parte do mercado – não habitamos uma “bolha”. Há de se viver, profundamente, a essência – sem dúvidas! Porém, a “aparência” precisa ser convergente naquilo que deseja comunicar. A frase pode soar controversa, mas é bem verdadeira: Não basta ser, é preciso parecer. Já o contraponto não é verídico: se apenas parecemos, sem de fato sermos, não chegaremos muito longe. A convergência é fator de sustentabilidade. Intenção e ação. Discurso e prática. Doutrina e realização.
Ninguém dá o que não tem. Se desejamos uma equipe empática e escutadora, sejamos o exemplo da vivência da empatia. Não é com discursos prontos e monólogos intermináveis que venceremos pelo cansaço e convenceremos o outro a fazer o que falamos – que pode não refletir nossas próprias ações. Para evoluir equipes em melhores ouvintes, as escutemos. Para entregar soluções efetivas, entendamos as necessidades expostas – também pelos nossos.
Comece pelo porquê. Mas não deixe de cooperar no estabelecimento de novos “comos” para os “o ques” de sempre!
Por Maíra Santiago, diretora-presidente da Cooperativa Coletiva