Da distopia à esperança: Stephen King e reflexões sobre cooperação
Uma reflexão inspirada em A Longa Marcha: vivemos numa sociedade que normaliza a exaustão e transforma a competição em regra. Mas, se a caminhada nos forja, também revela escolhas — entre virtude e vício, cooperação ou individualismo. Nas cooperativas, temos a chance de construir mudanças reais por meio do diálogo e da ação. Que a marcha seja mais leve, humana e coletiva. Avancemos juntos — por nós e por quem caminha ao nosso lado. Em marcha.
Maíra Santiago
11/27/20252 min read


Um filme chocante – como são todas as adaptações da obra de Stephen King. Um futuro distópico, uma competição aterradora. Ou, em um olhar mais pessimista, A Longa Marcha: Caminhe ou Morra poderia ser vista como uma caricatura da competição desenfreada em que o mundo pode se tornar. Ou, talvez, já tenha se tornado para muitos.
O princípio da competição é simples e cruel: para que alguém ganhe, outro precisa, necessariamente, perder. Vivemos na chamada “sociedade do cansaço”, em que a caminhada não admite pausas. O lema “trabalhe enquanto eles dormem” se normalizou, levando tantas pessoas à exaustão. Quem tem tempo — ou energia — para questionar um modelo que tritura seres humanos para se manter em funcionamento?
Essa lógica perversa nos faz acreditar que, se o contexto nos impele a correr mais rápido, qualquer meio vale para manter a vantagem — mesmo que envolva subterfúgios antiéticos ou desumanos. Cada um por si: pela própria vida, pelo próprio negócio, pelo próprio resultado.
Mas há algo que não podemos esquecer: à medida que caminhamos, nos forjamos.
É uma escolha individual direcionar nossos esforços a partir das virtudes humanas ou ceder à tentação de seguir pelos caminhos mais fáceis — os nossos vícios. No fim, ao cruzarmos a imaginária “linha de chegada”, a pergunta inevitável será: quem encontraremos diante do espelho? A autoconstrução acontece nas relações que cultivamos. A célebre frase atribuída a Hemingway traduz isso de forma potente:
“Quem estará nas trincheiras ao teu lado? E isso importa? Mais do que a própria guerra.”
Quisera eu viver em um mundo em que as metáforas fossem além das batalhas. Mas, enquanto isso não acontece, sigamos acreditando que sempre há margem de escolha.
Cooperação como resistência
Optar pela cooperação é, antes de tudo, questionar o sistema. Escolher o cooperativismo é uma forma de confrontar o status quo. Viver os princípios cooperativistas demonstra que existem alternativas — mais humanas e viáveis — de prosperar coletivamente.
Não precisamos deixar ninguém para trás.
Não é necessário que uns percam para que outros (poucos) ganhem.
Exploração, injustiça e desigualdade não precisam ser regra.
Ao menos, não deveriam ser.
Claro, o modelo de negócio não garante nada por si só. Onde há pessoas, há complexidade: o melhor e o pior podem emergir. Ainda assim, em uma cooperativa temos a oportunidade de participar ativamente das mudanças que desejamos construir.
Por meio do diálogo e da construção conjunta, podemos buscar consensos capazes de nos levar além. Desde que estejamos dispostos a nos colocar em marcha — esperançosamente.
A transformação começa com a ação
A evolução, individual e coletiva, depende de nossa reta ação, como ensina a filosofia.
Esperar por “salvadores da pátria” é ilusório — a história nos mostra que essas figuras quase sempre vêm acompanhadas de frustrações e riscos.
As perguntas que ficam são:
O que precisa evoluir nas nossas cooperativas?
Qual é a ação de cada um para impulsionar esse fluxo?
Como avançar rumo às utopias que desejamos?
Olhar para o lado, reconhecer nossos parceiros de caminhada e seguir em frente — por nós, mas também por eles. Talvez, assim, a longa marcha se torne mais leve, mais colaborativa e, quem sabe, mais humana. E possamos compreender que a vida acontece enquanto fluímos por ela.
Em marcha!
